quarta-feira, 2 de abril de 2008

Vamos "arrumar" as cabras...?



Pois é.. desengane-se quem pensa que a vida de pastor é facil...

Este fim de semana tive oportunidade de experimentar, muito fugazmente, um fim de dia diferente: eu e meu pai fomos ambos recolher o rebanho.

Parecia tudo muito bem, embora tivessemos que fazer uma viagem de 5h de regresso a Lisboa, ainda nessa noite e, para ajudar à festa, chovia "que Deus a dava!"

Chegados ao portão da cerca, surgiu logo um comentário prometedor: "Tamos feitos..!". A mim parecia-me tudo bem.. Mas o meu pai ao avistar as cabras todas espalhadas ainda no pasto, sem sinais de vontade de entrar no estábulo, previu dificuldades não esperadas.. ou pelo menos uma missão mais complicada do que o previsto!

Mas com algum esforço e persistência, enfrentando a tempestade, o verdadeiro pastor (eu continuava uma tentativa de aprendiz) conseguiu orientá-las para o local exacto, onde pastor e cabras chegaram "ensopados" até aos ossos...

Ordem seguinte: "Conta-as!". Ui... Agora é que ficou complicado.. Elas vinham todas a galope, a atropelarem-se, e era suposto eu conseguir conta-las...?!

Bem.. não foi fácil, mas foi possível...

Mais interessante e estimulante, já no interior do estabulo (sem apanhar chuva), foi mungir (e não mugir como me parecia que era dito pelos profissionais da área) aquelas que não tinham o leite saudável. Seguia-se a fase de juntar os cabritinhos órfãos que eficazmente e com muito mais jeito conseguiam esvaziar todo o leite que as "mães emprestadas" traziam.

Bem, até aqui parecia que nem estavamos muito mal.. Agora só faltava a outra parte do rebanho, (as de raça bravia) que eram muito mais selvagens e em muito maior número.. e que pastavam num outro sector da propriedade nas profundezas do vale, junto ao rio Penacal... Pelo menos essas pareciam mais desejosas de regressar a "casa", pois estavam em grupo aguardando que lhes fosse aberta a "cancela" de acesso à zona do "doce lar"..

Pois, aí a inexperiente pastora não conseguiu dar conta do recado e as cabras em vez de se dirigirem ao estábulo, desviaram-se um pouco, e subiram o monte seguinte... O resultado foi a desgraçada da aprendiz a correr que nem uma desalmada para a frente da cabrada para fazer com que mudassem de direcção. E o que não me parecia possível, voltou a acontecer.

Ao fim muito abanar de braços, muitas tentativas verbais, que elas devem ter entendido.. acabaram por se dirigir ao local apropriado... as "queridas", atenciosamente acederam ao pedido.

Problema seguinte: "Agora, vamos contá-las à entrada para a loja". Foi nova guerra para tentar que entrassem ordeiramente para o estábulo, mas tornou a ser possível!

Problemas acabados? Era bom... mas surgiu outro comentário preocupante: "Faltam 3!"

O que fazer...? Não havia muitas hipoteses: ir à sua procura ou deixa-las à sua sorte. A opção foi óbvia, bem como a divisão de tarefas: "Tu vais pa cima e eu vou para baixo.".

Lá foi mais uma caminhada (ou escalada) pelos terrenos selvagens que as cabras tanto gostavam de explorar, como muito mais perícia do que qualquer de nós.

Ouviram-se uns chocalhos, uns "balidos chorosos" já familiares e assim foi possível (mas não fácil encontrá-las). Depois de várias estratégias (quase militares) de abrir portões e orientar as cabras sem fazer com que estas se espantassem e ainda fugissem para lugares mais inacessiveis, elas regressaram à loja.

Estava missão cumprida! E além disso havia também um aroma especial na nossa roupa, uns cabelos molhados de uma mistura de suor e chuva, uma respiração ofegante e uma satisfação gratificante.

Não é fácil, mas é possível. Não dá lucro, mas dá satisfação. Dá preocupações, mas é divertido!
(This post has been edited by jmaspedro)